segunda-feira, 6 de maio de 2013

O lado bom do jeitinho brasileiro

Olá,


Em postagem anterior falamos do lado ruim do jeitinho brasileiro. Contudo há o lado bom. O lado do trabalhador que se vira nos 30 para garantir seu "faz-me rir". Do comerciante para atrair novos clientes. E hoje para mostrar este lado bom, vamos compartilhar a entrevista de Eduardo Tavares, Administrador de Empresas e Professor, cedida ao Jornal Estaciente (JE) da faculdade Estácio de Sá em Niterói, após o Post que escreveu ilustrando os malabarismos de pessoas comuns para garantir o pão de cada dia sem roubar ou trapacear.

Confira a entrevista:

(JE) Quais são os exemplos mais comuns do jeitinho brasileiro?
Jeitinho é o que chamamos essa flexibilidade do brasileiro para lidar com as regras, desafios e desigualdades que ele enfrenta todo dia. O jeitinho é patrimônio nacional e está presente na forma como o trabalhador informal tem jogo de cintura pra sustentar a família, na ginga das empresas ao contratar office-boys sexagenários como forma de se beneficiar da legislação e driblar as filas dos bancos, ou até na pior forma de jeitinho que é a que remete às práticas de suborno ou proveito de qualquer vantagem indevida para se obter benefícios.
(JE) É só no Brasil que isso acontece?
Se dermos uma olhada em como a nossa sociedade se formou e em como ela funciona, veremos que no Brasil os laços familiares e as relações de amizade são fundamentais para que seja possível ganhar o perdão de uma multa, passar na frente da fila ou conquistar um cargo em um orgão público – as regras acabam sendo ignoradas em favor da amizade. A aversão que temos à formalidade é outra característica: no dia a dia, por exemplo, nomeamos colegas de trabalho e até mesmo clientes com apelidos ou diminutivos (inho/a). No ambiente de negócios acaba existindo a preocupação de fazer com que a amizade adquira uma importância muito grande, algo totalmente incomum em países que prezam pela objetividade nas relações comerciais. Neste aspecto, levando-se em consideração a peculiaridade da nossa formação, somos ímpares no mundo.
(JE) Essas práticas só acarretam prejuízos ou não, por que?
É importante não estereotiparmos o “jeitinho” como algo unicamente ruim. O jeitinho tá no DNA cultural do Brasil e é uma forma interessante de fazer mais com menos e de ter a flexibilidade necessária para lidar com situações novas, algo por sinal, muito valorizado no mundo moderno. Eu diria que a parte em que isso nos traz um imenso malefício é quando nos referimos às práticas desonestas que quebram as regras, ativam a corrupção e causam prejuízos morais que acabam sendo absorvidos pela sociedade como sendo algo “normal” já que a prática se torna comum.
(JE) A impunidade faz com que as pessoas que gostam de seguir as regras sejam vistas de forma distorcida?
É certo que sim. O fato de a sociedade absorver certas práticas como algo que “faz parte do jogo” contribui para que a população tenha uma “indignação passiva” incapaz de gerar algum tipo de mobilização ou de mudar o comportamento das pessoas que se sentem indignadas. Num ambiente desses, qualquer pessoa que queira fazer a coisa certa vai se sentir exceção e vai trazer um desconforto grande pra sociedade.
(JE) O jeitinho brasileiro contribui para o não cumprimento das leis?
O mau jeitinho sem dúvida contribui. Ele existe pra driblar a regra, pra gerar favorecimentos e pra criar exceções. Se a lei que é criada pra regular as práticas e igualar os cidadãos não é respeitada, toda a expectativa criada em torno de uma maior justiça social fica comprometida.
(JE) E por falar em leis, aqui no Brasil, elas são coerentes com o modo de viver, com a cultura?
O problema está muito menos nas leis e muito mais no brasileiro. Se a cultura da indisciplina, do favorecimento ilícito e da falta de ética é aceita pelo senso comum da população é pouco provável que se consigam fazer leis adequadas a essa realidade. É um grande erro pensar que o exemplo deva vir de cima antes de começarmos a agir. Cabe a cada brasileiro individualmente a responsabilidade ética pela construção de um país diferente.

Um comentário:

  1. Acredito que o jeitinho não é apenas de algumas pessoas e sim da nação inteira. É uma maneira de conseguirmos fazer, realizar, o que queremos, mas, isso se dá de acordo com as condições que temos em realizar.

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